Nascida há um ano como proposta, a vivência “Isto é
o meu corpo” proporcionou três dias de experiências e construções de novas
correntes de pensamento, relacionamento e vivencialidade quanto às questões
relativas à corporeidade e sexualidade diante da vida e das relações
estabelecidas. Além disso, refletiu sobre como a sociedade tem sido construída
em torno das diversidades e dos discursos e sobre o posicionamento de alguns
segmentos religiosos. Foram vários os temas abordados, como as relações
homoafetivas e a sexualidade vivida entre as pessoas.
Ouça a entrevista produzida com André Musskopf
Em entrevista à assessoria de comunicação do evento,
o teólogo, professor e escritor André Musskopf abordou inicialmente a relação
entre os temas corporeidade e sexualidade. Primeiro, entendendo corporeidade
como a experiência que cada pessoa tem do seu próprio corpo, considerando o
corpo não só como a parte física, mas como ser humano em sua integralidade e
também na experiência corporal com outras pessoas e com outros corpos. E a
sexualidade enfocando a dimensão da construção das relações a partir do que se
chama de erotismo. Musskopf abordou ainda a diferença entre o conceito
geral do termo e a proposta do trabalho: "Erotismo geralmente está
associado muito hoje com uma perspectiva de sexo como ato sexual; estamos
entendendo erotismo e sexualidade muito mais como elementos de qualidade nas
relações, aquilo que faz com que as pessoas se aproximem e se afastem e
estabeleçam as suas relações. Por isso, essas duas questões estão muito
próximas conceitualmente e também na experiência que a gente entende das
pessoas," explicou Musskopf.
Sobre o lançamento do livro "Via(da)gens
Teológicas", o teólogo explicou que o compilado de 500 páginas é fruto da
tese de doutorado defendida por ele no ano de 2008. No estudo, André propõe
pensar e analisar de que forma se pode construir no contexto brasileiro uma
teologia, um discurso e uma prática religiosa que partam do conceito e da ideia
de diversidade sexual. O escritor continua dizendo que fez uma análise
histórica de como se constrói no contexto brasileiro a religiosidade nas
múltiplas manifestações e expressões e a ideia de sexualidade no Brasil. André
elucida ainda que reconstrói essa história mostrando tanto a sexualidade quanto
à religiosidade, e também como a relação entre elas tem sido marcada pelo que
ele chama de ambiguidade, no sentido de que existe mais de uma possibilidade e
que são incorporados vários elementos na configuração das identidades e na
vivência das pessoas. Em seguida, ele aborda diversidade: "Eu procuro
trazer pro contexto brasileiro uma produção teológica na área de teologia gay,
teologia queer e teologia da diversidade sexual que tem sido produzido,
principalmente nos Estados Unidos, há mais de 30 anos e é desconhecido do
público brasileiro, mas também procurando perceber em que espaços no Brasil e
na America Latina tem se produzido isso que a gente chama de teologia
queer," enfatizou. E completou: "E aí vou trazendo narrativas de
pessoas 'trans' como também autoras e autores que me ajudam a construir essa
proposta de epistemologia que eu construí usando o lema do MST*: ocupar,
resistir e produzir".
Para Musskopf, a experiência com o grupo em Salvador
permitiu mais tempo para a construção coletiva de significados, conhecimento e
reflexões através de conversas, exercícios e dinâmicas, uma vez que eles só se
encontravam em congressos, simpósios e palestras de maneira muito rápida e
inoportuna para tal experiência: "Eu fico muito feliz e satisfeito com
esse encontro, pela forma como as pessoas se disponibilizaram, se envolveram e
aceitaram esse convite pra gente conversar, e não só conversar falando, mas
conversar efetivamente através de trocas que passam muito por outras dimensões
do que só a fala, onde possa vivenciar de fato determinadas questões e, a partir
dessa vivência, produzir novos significados e novas perspectivas pra gente
continuar construindo igrejas cada vez mais acolhedoras e que cuidem mais das
pessoas," disse emocionado.